Os preços globais dos alimentos subiram em maio, pelo 12º mês consecutivo, quase 40% na comparação anual, de acordo com o índice de preços dos alimentos das Nações Unidas. O mês passado também registrou o maior aumento mensal nos preços médios dos alimentos em mais de uma década, atingindo 4,8% de abril para maio.
Abdolreza Abbassian, economista sênior da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, diz que a surpreendente demanda por milho na China, a contínua seca no Brasil e o aumento do uso global de óleos vegetais, açúcar e cereais fizeram com que os preços aumentassem rapidamente em todo o mundo.
“A demanda está surpreendendo a todos”, disse Abbassian ao CNN Business. “Essa demanda exige uma forte resposta da oferta.”
A inflação global está aumentando os preços de praticamente tudo, de alimentos a aço, madeira e energia. Nos países que pertencem à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), os preços dispararam em abril para a maior taxa desde 2008.
O maior uso de bio diesel e os aumentos moderados dos preços globais de carnes e laticínios também contribuíram para o aumento acentuado dos preços globais dos alimentos.
O relatório da ONU disse que as cotações internacionais do óleo de palma atingiram seu nível mais alto desde fevereiro de 2011 devido ao lento crescimento da produção de óleo de palma nos países do sudeste asiático e o aumento das necessidades globais de importação estão mantendo os estoques baixos nas principais nações exportadoras. “A demanda tem sido bastante robusta no setor de óleos vegetais em geral”, disse Abbassian.
O Brasil cortou seus especialistas em milho e açúcar em meio à seca, de acordo com Abbassian, que disse que a especulação sobre quanto milho o Brasil e os agricultores nos EUA podem produzir neste verão e no início do outono é um ponto de preocupação para administradores de abastecimento de alimentos e economistas.
“Esta é a grande questão na mente de todos agora”, disse ele. “No setor de cereais, houve muitos problemas em termos do que vai acontecer com a produção deste ano. Fala-se muito de que as secas no Brasil afetem realmente o mercado de milho”.
Os preços dos alimentos nos EUA ainda não voltaram ao normal este ano, depois que a pandemia de compras de alimentos os fez disparar há um ano. Os preços gerais dos alimentos nos EUA subiram 2,4% em abril em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto os preços das frutas e vegetais aumentaram 3,3%.
Inflação castiga brasileiros
O amento dos preços dos alimentos no Brasil preocupa, sobretudo, pelo risco que o pais corre de voltar ao chamado mapa da fome, de onde saiu em 2014, com o programa Bolsa Família. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) o programa reduziu a pobreza em 15% de 2001 a 2017, e a extrema pobreza em 25%.
O Brasil volta a essa lista se a subalimentação chegar a 5% da população. O país já deve estar próximo dos 9,5%, segundo projeção de Daniel Balaban, representante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) e Diretor do Centro de Excelência contra a Fome. Balaban falou com a CNN em abril e disse que a situação do país é muito preocupante.
E a alta dos preços deve continuar atrapalhando esse cenário. No IPCA de abril, que mede a inflação oficial no Brasil, o grupo alimentos e bebidas teve o segundo maior impacto no índice, atrás do item saúde, acima do registrado no mês anterior.
A inflação em alta tem castigado os consumidores brasileiros, que arcam com preços maiores, não só de alimentação, mas de combustíveis e energia elétrica.
No caso dos combustíveis, os valores têm sido pressionados pelo dólar em alta ante o real, já que a Petrobras segue correções internacionais do petróleo. Já a energia elétrica teve um aumento em junho, com a bandeira tarifária vermelha 2, a mais cara, anunciada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), devido à falta de chuvas no país.
Na próxima semana, na quarta-feira (9), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o IPCA de maio. O índice deve ficar em 0,7%, segundo a média das estimativas de mercado. O que pode assustar é o índice em 12 meses, que pode passar de 8% ao ano, o maior patamar desde 2015, quando o país teve uma inflação de dois dígitos.
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