A Ambev vai aumentar o preço das cervejas a partir do início do mês de outubro. A informação foi repassada aos estabelecimentos clientes da empresa por meio de comunicados nos últimos dias. O gigante das bebidas é dono de marcas como Antarctica, Brahma, Skol e Stella Artois e detém uma fatia de cerca de 60% do mercado.
Segundo um comunicado ao qual a reportagem teve acesso, o reajuste seguirá, “em linhas gerais, a variação da inflação, variação de custos, câmbio e carga tributária”. A Ambev não informa qual o valor do reajuste. Consultada, a empresa afirmou, em nota, que “faz, periodicamente, ajustes nos preços de seus produtos e as mudanças variam de acordo com as regiões, marca, canal de venda e embalagem”, sem fornecer maiores detalhes.
A Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) estima que o reajuste deve ser em torno de 10%, alinhado à inflação acumulada nos últimos 12 meses. No entanto, pode haver variação entre estados e regiões.
Percival Maricato, presidente do conselho estadual da Abrasel em São Paulo, ressalta que, apesar de a Ambev afirmar se tratar de um reajuste periódico, o momento para um aumento de preços é “péssimo”. Para ele, considerando a alta do combustível, da energia e das matérias-primas, além do endividamento e das despesas com aluguel, trabalhadores e fornecedores, os bares e restaurantes passam por uma situação “muito difícil”.
Segundo pesquisa da Abrasel, realizada com 1.272 empresas de alimentação fora do lar de todo o Brasil entre os dias 12 e 24 de agosto, cerca de 37% dos bares e restaurantes operaram no prejuízo no último mês de julho. Cerca de 54% afirmaram ter pagamentos em atraso e 65% disseram ter aumentado preços do cardápio no primeiro semestre deste ano.
“Tudo está aumentando. O que eles faturam no mês muitas vezes não é suficiente para pagar todas as despesas”, diz Maricato. Ele afirma ainda que o reajuste deve ser repassado ao consumidor final. “Talvez não totalmente, mas não existe almoço grátis, como se diz. Os proprietários, por mais que tentem, terão de repassar esses custos. Só não repassariam se fossem milagrosos. E é muito difícil agora repassar isso para o cliente, porque o cliente também está lesado”, diz.
Maricato também lamenta que um reajuste venha no momento em que a vacinação avança no país, possibilitando uma reabertura maior e mais movimento nos estabelecimentos. Ele teme que, caso os preços em geral continuem subindo, o aumento de público esperado para os próximos meses não se concretize.
“Foram cerca de 17 meses de endividamento e, agora que chegou a hora de tentar faturar, é claro que qualquer aumento nós lamentamos bastante. Porque fica inviabilizando, dificultando essa recuperação. A nossa esperança é que todo mundo segurasse um pouco [os reajustes], para que a gente pudesse ter uma fase de recuperação mais tranquila”, conclui.
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