De uma ponta a outra do Estado, o cenário das rodovias estaduais e federais é o mesmo. Buracos enormes que ultrapassam os dois metros de diâmetro. Falta de sinalização e vegetação invadindo as vias. Não tem sido fácil trafegar por essas estradas.
Neste período chuvoso, os perigos foram potencializados. Sobram reclamações e faltam medidas efetivas. Em uma das mais importantes rodovias do País, a BR-116, no Km 496, entre os municípios de Milagres e Brejo Santo, os buracos chegam a ocupar os dois sentidos. Caminhoneiros, carros e motocicletas tentam se esquivar, mas é inevitável. A saída é percorrer lentamente o trecho. “Isso aqui é uma vergonha. Faz tempo que passo por aqui e está do mesmo jeito”, conta o comerciante Francisco de Souza.
Já o motorista José Assis dos Santos, que faz a linha entre Brejo Santo e Juazeiro do Norte, teme pela segurança de seus passageiros e manutenção do veículo. “Mês passado, arrebentou a suspensão. A gente paga imposto, valores altos e qual é o retorno?”, questiona. “É uma das piores que passei. E olha que já percorri o Brasil quase todo”, diz o caminhoneiro paulista Luciano Andrade.
Sob o sol escaldante do meio-dia, o agricultor João Barbosa de Sousa e sua família viram no problema uma chance de melhorar a renda. Com pás e terra tentam minimizar os problemas tapando alguns buracos da rodovia federal. “Emprego é difícil, então, nosso jeito é este aqui”, admite. Sua esposa, a também agricultura Maria Luciana de Sousa, conta que, por causa das “crateras” formadas na pista, muitos acidentes, alguns fatais, acontecem na BR-116. “O pessoal tenta desviar e acaba colidindo, principalmente, à noite. Muitos carros também quebram”, narra.
Outra rodovia que tem preocupado os motoristas na região do Cariri é a CE-293, entre Missão Velha e Barbalha, que passa por obras de duplicação. A principal reclamação diz respeito à falta de visibilidade, já que a sinalização ainda não foi concluída.
Segundo o DER, os serviços na rodovia já têm mais de 70% de avanço e serão entregues até o fim do primeiro semestre de 2019. Lá, serão investidos, no total, R$ 55 milhões. Mais distante dali, está a rodovia CE-060, que liga o município de Jardim à cidade pernambucana de Cedro e, também, é um dos acessos à BR-116 através da PE-475. A maior parte do trecho, de aproximadamente 15 quilômetros, está com muitos buracos, sinalização encoberta por vegetação e ondulações na pista causadas pelos antigos reparos. Por outro lado, o Governo do Estado já licitou o projeto para pavimentar a CE-390, que dá acesso a Penaforte. A rodovia reduzirá o trajeto pavimentado entre as cidades de Jardim e Penaforte, de 54 quilômetros para 31,9 quilômetros de extensão.
De ponta a ponta
Na região Centro-Sul do Ceará o cenário é igual. Trechos da BR-116 e das rodovias estaduais CE-060 e CE-282 são exemplos de onde há inúmeros buracos, que exigem dos motoristas atenção redobrada. Os acidentes e danos nos veículos tornaram-se mais comuns.
No último fim de semana, duas pessoas ficaram gravemente feridas após acidente causado em decorrência do péssimo estado de conservação da CE-060, próximo a Várzea Alegre. Um dos trechos mais críticos começa a partir do entroncamento da BR-230 até a cidade de Granjeiro. Recentemente, moradores e motoristas realizaram um protesto contra a buraqueira que permanece desde o ano passado.
Entre Iguatu e Várzea Alegre, na CE-060, há buracos, quebra-molas sem sinalização e mato que invade a pista. No trecho entre Iguatu e Icó os buracos também se multiplicam na CE-282.
Na BR-116, há vários buracos a partir de Russas até a cidade de Jati, em um trecho de mais de 350 Km. A via tem tráfego intenso de automóveis e veículos pesados. Entre Icó e Jaguaribe, os motoristas dirigem em ziguezague para desviar os buracos, aumentando a possibilidade de acidentes. “Isso é uma vergonha, a cada ano surgem novos buracos e outros que reabrem onde foram tapados”, diz o caminhoneiro Geraldo Teixeira. A BR-020, no trecho entre Boa Viagem e Canindé, também está danificada.
No Sertão Central, acontece o mesmo. Buracos atrapalham os condutores que precisam redobrar os cuidados nas viagens pelas rodovias de aceso ao Centro do Estado. Eles enfrentam transtornos de ponta a ponta no percurso que leva à principal cidade da região, Quixadá.
Tapa buracos
As crateras abertas no trecho de aproximadamente 40 Km, no município de Ibaretama, começaram a ser tapadas. Funcionários da empreiteira responsável pelo serviço informam que o objetivo é evitar mais acidentes.
O autônomo Adamastor Filho viaja diariamente de Quixadá para a Capital. Ele não realiza mais o percurso à noite. Apenas alguns pequenos trechos estão em boas condições de tráfego e, mesmo assim, a sinalização é precária. As placas estão inclusive encobertas pelo mato.
O trecho entre Quixadá e Banabuiú é crítico. O trajeto, antes realizado em meia hora, agora é feito no dobro do tempo. Segundo Elistênio Fernandes de Freitas, o movimento no restaurante de sua família caiu mais de 90%. “Nem nos fins de semana os clientes aparecem mais. Quem mora na cidade, há pouco mais de 10 Km, não está disposto a enfrentar tantos buracos”, diz.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pela administração e conservação das BRs, autorizou o início dos reparos no fim de março. O DER também informou que iniciou a recuperação. Mas, motoristas reclamam da demora e da forma como os serviços são realizados. “Para consertarem, os operários cortam ainda mais o asfalto, deixam o buraco mais fundo. Cair em um deles pode ser fatal, principalmente para quem utiliza motocicleta”, critica Adriano Sousa.
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