Surpreendidos pela operação policial, os bandidos que conseguiram fugir saíram a esmo pelos matagais ao redor da zona urbana de Milagres. Uns abandonaram a Ranger da família pernambucana numa várzea atrás do Bradesco, outros, o Celta da família cearense no caminho para a BR-116. O cerco era ainda maior com o helicóptero do Ciopaer. E o sol.
Logo no início da manhã, dois homens cruzam a BR em direção à localidade de Campo Agrícola. ‘Dé’ já estava na roça, arando com jumento, para depois ordenhar uma vaca. Estava perto de casa, com o leite no balde, quando avista dois homens que, de cara, não eram dali.
Parados no terreiro que dá para a calçada, alegam que foram assaltados. Só queriam um celular. Após o pedido atendido, oferecem R$ 30 reais pela ligação.
– Não, precisa não. Use o tempo que quiser.
Monalisa, a esposa, já estava também na porta de casa com a filha mais nova, de seis meses. Como se não houvesse tempo de mais palavras, uma viatura surge cerca de 300 metros à frente, entrando na comunidade. Em disparada, os homens correm por um beco na lateral da casa e, encontrando a porta aberta, pulam para o quarto da família. Um vai para a cama da casa, outro se esconde embaixo.
– Pera, deixa eu tirar minha filha, pede ‘Dé’ aos policiais. A menina, de quatro anos, dormia na cama conjugada à dos pais, apossada. Com a filha ainda dormindo no colo, agora todos fora de casa, a Polícia entra e em segundos se ouve os tiros.
A essa altura a vizinhança já está nas portas das casas. Os policiais retiram os dois homens. Um apreendido, outro morto e, antes de levá-los na viatura, ordena à vizinhança que limpem a casa.
Monalisa passa o resto do dia chorando, apavorada. Não conseguiam mais entrar na casa. Antes que anoitecesse, Dé coloca o que tinha de mais importante em sua carroça e vai embora com a família, desejando nunca mais voltar. A casa, onde morava havia três anos, já estava com o aluguel de dezembro pago – R$ 100 reais. Agora é a própria vizinhança que também deseja sair dali, que para alguns ouvidos durante a nossa apuração “virou um lugar maldito”.
O dinheiro possível
Em Lagoa Cercada, sítio fora da cidade, a casa de seu Zezin, motorista que faz linha até Brejo Santo, é arrombada. Gorete, a esposa, não sabe que horas nem quantos homens eram. Mas a nora, que chegou antes, encontrou a porta da cozinha quebrada. “Não entre aí, pelo amor de Deus”, disse a sogra pelo WhatsApp. Avisa ao filho Thiago, que chega de moto, mas também não entra. Aproveita a movimentação extraordinária e segue até uma das viaturas na BR 116.
– Dona Maria, olhe se não tá faltando nada na sua casa, diz um dos agentes a Gorete.
Parecia tudo ‘ok’, além de uma porta quebrada. Mas em seu quarto as roupas do marido estavam todas no chão. A peleja agora era lembrar que roupa faltava, pois “ele”, ou “eles”, não se sabe quantos, estariam agora vestidos.
Na bolsa da mulher, os cartões também estavam lá. Mas espera: tá faltando algo. O invasor levou R$ 580 reais que estava na bolsa, para pagar contas de casa. Até onde se sabe, seria essa a única quantia levada de Milagres por um bando que esperava arrombar dois bancos.
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