Desde os anos 1970, pelo menos nove prefeitos e ex-prefeitos foram assassinados no Ceará por questões políticas e brigas de família, de acordo com levantamento do Sistema Verdes Mares em notícias veiculadas na imprensa e em pesquisas acadêmicas que tratam de crimes por motivações políticas no Estado.
Nesta terça-feira (24), o assassinato do prefeito de Granjeiro, João Gregório Neto, conhecido como João do Povo, faz reviver a sombra que paira no histórico de outras cidades cearenses marcadas por crimes que custaram a vida de lideranças políticas. Ainda não há esclarecimentos sobre a morte de João do Povo.
A maioria dos assassinatos está envolta em “crimes de pistolagem”, como são chamados popularmente casos de homicídios qualificados que “acontecem mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe”, “por motivo fútil”, ou por “emboscada, ou mediante dissimulação ou torne impossível a defesa do ofendido” – como define o artigo 121 do Código Penal brasileiro.
Um levantamento do portal de checagem de informações Aos Fatos, de 2018, mostrou que o Ceará foi o estado em que mais se matou políticos, entre prefeitos e vereadores, entre 2007 e 2018.
Conheça outros casos de morte de prefeitos e ex-prefeitos:
1970
Aiuaba
Em 1º de maio de 1972, o prefeito de Aiuaba Armando Arraes Feitosa, de 55 anos, foi vítima de um crime de pistolagem no alpendre de sua casa. A vítima, que concorria ao pleito, foi prefeito de Aiuaba por duas vezes e em Saboeiro, quatro. O crime foi cometido pelo pistoleiro Antônio Feitor.
Iracema
O então prefeito de Iracema, Expedito Leite, foi morto no dia 13 de fevereiro, em Fortaleza, na rua Conselheiro Tristão, com um tiro na cabeça. O pistoleiro Idelfonso Maia Cunha, mais conhecido como Mainha, chegou a confessar o crime anos depois.
1980
Caucaia
O ex-prefeito Joaci Pontes foi morto no dia 5 de abril de 1981, na localidade Água Suja, próximo ao sítio Juá, em Caucaia. O ex-prefeito, que também foi vereador na cidade, foi atingido à época com um tiro de revólver no peito direito e teve morte imediata. A causa do crime, segundo a Polícia na época, foi motivada por brigas pela posse de terrenos loteados.
Joaci Pontes foi prefeito de Caucaia de 1974 a 1978. Ele era pai do ex-deputado estadual Ted Pontes e tio do também prefeito, Domingos Pontes.
Pereiro
Em uma chacina na cidade de Alto Santo, em 1982, foram mortos o ex-prefeito de Pereiro, João Terceiro de Sousa, a mulher dele, Raimunda Nilda Campos,o motorista Francisco de Assis Aquino e o policial militar João Leonor de Araújo. O autor da chacina foi o pistoleiro Mainha, condenado a 64 anos de prisão pelo crime. A morte integra uma série de crimes de morte envolvendo duas famílias da Região do Jaguaribe, os Diógenes e os Nunes de Brito.
Maracanaú
O primeiro prefeito do município de Maracanaú, Almir Dutra, foi assassinado com um tiro na nuca, no bairro Jereissati I, no dia 27 de fevereiro de 1987. A morte teve motivações políticas. O então vice-prefeito, José Raimundo, foi acusado de ser o mandante do crime.
1990
Irauçuba
Em 1996, o então prefeito Antônio Gaudêncio Anário Braga foi encontrado morto numa fazenda. Ele foi assassinado com um tiro na boca dentro do próprio carro.
Acaraú
Em 8 de maio de 1998, o então prefeito João Jaime Ferreira Gomes Filho, o Joãozinho, foi assassinado por volta das 18h, no escritório de representação política da Prefeitura de Acaraú em Fortaleza, no bairro de Aldeota, com um tiro abaixo do olho, de bala calibre 38, disparada a um metro de distância. A bala atravessou o crânio. O prefeito teve morte instantânea.
O caso reviveu estereótipos criados em torno da política no Nordeste, com recurso à pistolagem, desvio de verbas públicas, suborno e disputa de morte entre ramos rivais de uma mesma família. Três dias depois do crime, o vice assumiu a prefeitura, logo pediu licença e depois renunciou.
Um dos condenados pelo crime, André de Castro Neves Feitosa, conhecido como Pantico, é filho de Antônio Feitor, acusado de matar o prefeito de Aiuaba, em 1972.
2010
Pereiro
O ex-prefeito do Município de Pereiro, Antônio Mardônio Diógenes Osório, 66, foi executado por dois homens em 31 de dezembro de 2010. Ele foi morto na Fazenda Campos, propriedade rural que pertencia à vítima. O caso aconteceu no início da manhã, quando ele estava na beira de uma estrada de terra, conversando com um grupo de empregados seus que faziam uma cerca.
Ao sair do local em sua caminhonete, dirigida pelo filho de Mardônio, dois homens em uma moto o abordaram, perguntaram se ele era “Mardônio Diogénes” e, quando ele respondeu que sim, efetuaram os disparos.
O assassinato de Mardônio Diógenes dá seguimento a uma série de crimes de morte iniciada há mais 30 anos, envolvendo duas famílias da Região do Jaguaribe, os Diógenes e os Nunes de Brito.
Granjeiro
O prefeito do município de Granjeiro, João Gregório Neto, foi assassinado a tiros enquanto caminhava próximo à parede do Açude Junco, no município do Cariri, no início da manhã desta terça-feira (24).
De acordo com testemunhas, um carro aproximou-se do gestor e o suspeito efetuou os disparos. Ainda segundo as testemunhas, foram ouvidos pelo menos três tiros.
Diário do Nordeste
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