No consultório anexo à residência do prefeito Hilson de Paiva, onde o médico atendia as pacientes de Uruburetama que o acusam de abusos sexuais, a esposa Maria das Graças de Paiva sempre estava por perto. “A recepcionista era a mulher dele”, conta uma vítima do médico que foi abusada e filmada durante consulta de rotina há nove anos. A paciente relata que ele passou pela esposa e trancou a porta. “Eu falei assim: ‘por que você trancou a porta?’. Aí ele disse: ‘pra não ficar um entra e sai”, relata a vítima. Nesse dia, o médico gravou a mulher, que está de costas na maca, enquanto com as mãos e com o corpo realiza abusos contra ela.
Nos vários depoimentos ouvidos pela reportagem, a presença de Maria das Graças é uma constante.
Outra paciente confirma que, mesmo adolescente, ficava sozinha no consultório. “A minha mãe ficava do lado de fora, com a esposa dele”. E, nos exames, ele se aproveitava da paciente.
Também em Cruz, cidade onde Hilson de Paiva trabalhou entre 2007 e 2013 como clínico, há confirmação da proximidade da esposa do médico durante os supostos exames. “Todas as vezes a esposa ficava”, conta outra paciente, abusada há 7 anos. Ela relata que Maria das Graças tinha o hábito de assistir aos procedimentos do marido. “Eu sabia que ele tinha problemas de saúde e que a esposa acompanhava”. Mas um dos atendimentos foi diferente. “Da segunda vez, a esposa não ficou. Eu achei algo estranho. Eu comecei a ver ele tremer”.
Nesse exame traumático, a vítima conta que estava em posição ginecológica quando percebeu que o homem estava com o órgão genital de fora tentando penetrá-la. Depois disso, a mulher conta que saiu correndo do consultório mas, na recepção, teve que controlar as emoções na frente de Maria das Graças. “Eu quis gritar, dizer pra ela a verdade, mas eu não tive coragem, eu não fiquei em mim. Aí ela disse: ‘cê demorou demais’. Eu falei assim: ‘é culpa do seu marido porque eu não quero fazer esse tratamento”.
Depois disso, a paciente não voltou ao consultório e enfrenta, até hoje, problemas psicológicos.
Esposa já foi condenada por dois crimes, mas segue em liberdade
A figura da primeira-dama divide opinião entre as vítimas. No âmbito político, todas são unânimes com relação à força e influência de Maria das Graças, que foi prefeita por dois mandatos, em 1996 e 2000. Ela responde, até hoje, dois processos. No criminal, foi condenada por dispensa de licitação ilegal e apropriação indébita previdenciária em pelo menos 13 situações diferentes. Em primeira instância, teve a pena fixada em 17 anos e 4 meses de reclusão. A segunda instância reduziu a sentença para 14 anos e 4 meses. Paulo Quezado, o advogado de Maria das Graças, afirma que ingressou com recurso no Superior Tribunal de Justiça e aguarda resultado.
O Ministério Público já pediu cumprimento imediato da pena que foi negado pelo Tribunal de Justiça. Mesmo condenada em segunda instância, ela permanece em liberdade.
Além disso, Maria das Graças também foi condenada na esfera cível pelo crime de improbidade administrativa por acusação de desvio de recursos para projeto de alfabetização. Foi sentenciada pela 2ª Vara de Uruburetama a pagar, ao Município, R$ 19.362,81. Ela recorreu e a 7ª Câmara Cível julgou a acusação improcedente e ela foi inocentada.
Com relação aos casos de abuso do marido, o advogado garante que ela “não tem qualquer participação do delituoso”.
Para as vítimas, ela deveria “abrir o olho”. Se inocente, é o momento de “ajudar as mulheres”, pede uma paciente.
Diário do Nordeste
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